Persistência da memória - Salvador Dalí, 1931. Tudo passa. Caio na monótona rotina dos dias. Odeio o som dos ponteiros. Bendito seja o criador do relógio de fluxo contínuo. É incrível como sons intermitentes podem ser extremamente perturbadores. No caso do relógio, sei que ele está ali para me lembrar de como meu tempo diminui a cada segundo, de como tenho gastado meus dias me revirando de um lado para o outro junto com o fluxo dos ponteiros. A preguiça e o tédio são a prisão a que me submeto. O relógio, o carcereiro. Minha cabeça vai tictaqueando. Tento apagar seu som da minha mente, mas no silêncio todos os sons ecoam. Tento digitar mais alto que o som do relógio. Bato com força no teclado, mas ele parece me vencer. Ele sempre vence. O tempo vence todas as coisas. Escolho estar só. E ouvir meus pensamentos. E enquanto isso o tic-tac-tic-tac-não pode parar. Num reforço sádico da minha própria mente, preciso que ele continue para saber que estou viva neste instante e no out...