Substituto nº1: fotos
Não me leve a mal. Não me adéquo, nem consigo converter-me por completo à superficialidade dominante nos nossos dias. Talvez meu "problema" seja só um celular com sistema operacional velho. Talvez meu problema seja minha autoestima abalada desde a adolescência. Talvez eu só não tenha paciência. O fato é que não consigo tirar foto a cada novo evento, não consigo fotografar tudo, nem mesmo quando o protocolo "diz" que eu devo: em momentos importantes. A verdade é que sempre que me chamam para tirar 50 fotos iguais, penso que duas eram suficientes se o intuito é registrar o momento. Para aperfeiçoar a foto - com o sentido de aproximá-la da perfeição -, os filtros cumprem seu papel: se o céu está nublado, é só agregar um pouco mais de cor, brilho ou contraste ou, quem sabe, um efeito preto e branco e pronto! Tudo volta a ser belo. Tudo volta ao seu padrão do que é belo e esperado pela sociedade.
Penso também no papel secundário que designamos à nossa memória. A nossa memória interna. Delegamos ao celular o papel de guardar o que somos - ou queremos ser. Se ele for roubado, só nos resta lamentar as tantas lembranças perdidas e o tanto de nós que foi levado à força. Entregamos às fotos a função de registrar aquele momento e menosprezamos o poder de nossa mente, ainda bastante misteriosa para os cientistas.
Entregamos o real ao virtual. Estamos vivendo em prol do virtual.
Ou vivemos intensamente o momento para depois postarmos ansiosamente no snapchat, Instagram, Facebook; ou nem o vivemos, mas a foto é tão perfeita que aquele parece ter sido o melhor momento do mundo, o que só valeu à pena porque rendeu uma boa foto. Ou pior ainda, o momento foi mesquinho, mas ficará guardado na memória congelada da máquina como algo digno de ser lembrado por você ao passar do tempo.
Não tenho aversão a fotos, não me entenda mal, só não creio que devamos viver em função delas. Tudo vale por uma boa foto? Os melhores momentos são aqueles em que esquecemos o virtual e vivemos somente o aqui e o agora.
Substituto nº 2: teclado
Relegamos a sensação da escrita ao teclado. Não há calos nos dedos. Não há mais tanto suor. Não há mais a pena, nem a espada, Camões. Somos agora muito tecnológicos. Não há mais a marca da escrita no papel. Fica somente a tinta. Artificial. Serei eu "das antigas" por interessar-me por o que é físico, paupável e cheirável? Se isso é ser antiga, prefiro sê-lo. Dar-me às sensações do que é belo e sensível a viver no automatismo dos cliques, das teclas, das telas e poses. Adoro surpreender-me ao perceber que me lembro de algo sem haver nenhuma ajuda de outro meio. Prefiro forçar minha memória a se lembrar. Se foi verdadeiro, enquanto eu tiver memória, certamente me lembrarei.
Não me leve a mal. Não me adéquo, nem consigo converter-me por completo à superficialidade dominante nos nossos dias. Talvez meu "problema" seja só um celular com sistema operacional velho. Talvez meu problema seja minha autoestima abalada desde a adolescência. Talvez eu só não tenha paciência. O fato é que não consigo tirar foto a cada novo evento, não consigo fotografar tudo, nem mesmo quando o protocolo "diz" que eu devo: em momentos importantes. A verdade é que sempre que me chamam para tirar 50 fotos iguais, penso que duas eram suficientes se o intuito é registrar o momento. Para aperfeiçoar a foto - com o sentido de aproximá-la da perfeição -, os filtros cumprem seu papel: se o céu está nublado, é só agregar um pouco mais de cor, brilho ou contraste ou, quem sabe, um efeito preto e branco e pronto! Tudo volta a ser belo. Tudo volta ao seu padrão do que é belo e esperado pela sociedade.
Penso também no papel secundário que designamos à nossa memória. A nossa memória interna. Delegamos ao celular o papel de guardar o que somos - ou queremos ser. Se ele for roubado, só nos resta lamentar as tantas lembranças perdidas e o tanto de nós que foi levado à força. Entregamos às fotos a função de registrar aquele momento e menosprezamos o poder de nossa mente, ainda bastante misteriosa para os cientistas.
Entregamos o real ao virtual. Estamos vivendo em prol do virtual.
Ou vivemos intensamente o momento para depois postarmos ansiosamente no snapchat, Instagram, Facebook; ou nem o vivemos, mas a foto é tão perfeita que aquele parece ter sido o melhor momento do mundo, o que só valeu à pena porque rendeu uma boa foto. Ou pior ainda, o momento foi mesquinho, mas ficará guardado na memória congelada da máquina como algo digno de ser lembrado por você ao passar do tempo.
Não tenho aversão a fotos, não me entenda mal, só não creio que devamos viver em função delas. Tudo vale por uma boa foto? Os melhores momentos são aqueles em que esquecemos o virtual e vivemos somente o aqui e o agora.
Substituto nº 2: teclado
Relegamos a sensação da escrita ao teclado. Não há calos nos dedos. Não há mais tanto suor. Não há mais a pena, nem a espada, Camões. Somos agora muito tecnológicos. Não há mais a marca da escrita no papel. Fica somente a tinta. Artificial. Serei eu "das antigas" por interessar-me por o que é físico, paupável e cheirável? Se isso é ser antiga, prefiro sê-lo. Dar-me às sensações do que é belo e sensível a viver no automatismo dos cliques, das teclas, das telas e poses. Adoro surpreender-me ao perceber que me lembro de algo sem haver nenhuma ajuda de outro meio. Prefiro forçar minha memória a se lembrar. Se foi verdadeiro, enquanto eu tiver memória, certamente me lembrarei.
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