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"Sete anos de pastor"; "Sete anos" e "Hebreia".



Sete anos de pastor, Camões
 

Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prémio pretendia.

Os dias, na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assi negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida;

Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: – Mais servira, se não fora
Para tão longo amor tão curta a vida!




Sete Anos, Gregório de Mattos


Sete anos a nobreza da Bahia
Servia a uma pastora Indiana bela,
Porém servia a Índia e não a ela,
Que à Índia só por prêmio pretendia.

Mil dias na esperança de um só dia
Passava, contentando-se com vê-la,
Mas frei Tomás usando de cautela,
Deu-lhe o vilão, quitou-lhe a fidalguia.

Vendo o Brasil, que por tão sujos modos
Se lhe usurpara a sua Dona Elvira,
Quase a golpes de um maço e de uma goiva:

Logo se arrependeram de amar todos,
E qualquer mais amara, se não vira
Para tão limpo amor tão suja noiva.





Hebreia, Castro Alves


Pomba d'esp'rança sobre um mar d'escolhos!
Lírio do vale oriental, brilhante!
Estrela vésper do pastor errante!

Ramo de murta a recender cheirosa!...
Tu és, ó filha de Israel formosa...
Tu és, ó linda, sedutora Hebréia...
Pálida rosa da infeliz Judéia
Sem ter o orvalho, que do céu deriva!
Por que descoras, quando a tarde esquiva

Mira-se triste sobre o azul das vagas?
Serão saudades das infindas plagas,
Onde a oliveira no Jordão se inclina?
Sonhas acaso, quando o sol declina,
A terra santa do Oriente imenso?
E as caravanas no deserto extenso?

E os pegureiros da palmeira à sombra?!...
Sim, fora belo na relvosa alfombra,
Junto da fonte, onde Raquel gemera,
Viver contigo qual Jacó vivera
Guiando escravo teu feliz rebanho..
Depois nas águas de cheiroso banho

— Como Susana a estremecer de frio—
Fitar-te, ó flor do babilônio rio,
Fitar-te a medo no salgueiro oculto...
Vem pois!... Contigo no deserto inculto,
Fugindo às iras de Saul embora,
Davi eu fora,-se Micol tu foras,

Vibrando na harpa do profeta o canto...
Não vês?... Do seio me goteja o pranto
Qual da torrente do Cédron deserto!...
Como lutara o patriarca incerto
Lutei, meu anjo, mas caí vencido.
Eu sou o lótus para o chão pendido.

Vem ser o orvalho oriental, brilhante!.
Ai! guia o passo ao viajor perdido,
Estrela vésper do pastor errante!...

www.dominiopublico.gov.br



 E termino esta postagem com um vídeo de Amália Rodrigues cantando Camões.
(Clique no nome para saber mais sobre ela).

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