Há algum tempo estava perdida: de mim, do mundo, de minhas convicções. Estava insosa, disgostosa e vivendo no automático. Sofri até me libertar. Quebrei as correntes que me prendiam, fiz novos laços, mas não percebi que minhas cadeias ainda estavam ali profundamente enraizadas. Abaixo da superfície.
O sofrimento regressou. Vivo em altos e baixos. Tento curar as feridas cuja culpa atribuía a outros, quando, na realidade, eram todas minhas, feitas por mim em um ato de autoflagelação.
Dizem que o tempo tudo cura: queria a cura para ontem, mas a cura vem aos poucos. Para sarar, para sanar, é preciso coragem. Coragem para enfrentar os monstros que rondam o pensamento e o nublam, fantasmas que me fazem regressar ao passado. Sou minhas histórias, sou o que já construi, sou o que ainda serei. E quem sabe o que o futuro reserva? Este que nem existe na realidade, mas que é uma soma de presentes. O futuro é uma ilusão: são planos, desejos, hipóteses, tudo virtual. O presente é o real.
É preciso lutar no presente: mudar aos poucos, passo a passo, cara a cara consigo mesma, para criar um novo futuro, novas possibilidades de ser quem quero ser: menos controladora, menos aflita, menos triste ou ansiosa. Mais alegre com quem posso chegar a ser ao reescrever minha história. Abrir o peito à força na procura de ser, enfim, como diz Milton Nascimento, caçadora de mim.
"Longe se vai sonhando demais. Mas onde se chega assim? Vou descobrir o que me faz sentir - eu, caçador[a] de mim" (Caçador de mim, Milton Nascimento)
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