Madres paralelas, filme mais recente (2021) do diretor espanhol Almodóvar é um grito. Almodóvar é mestre em manter-nos ali, presos, em suspenso com uma história cheia de reviravoltas e mistérios.
Madres paralelas conta a história de duas mães solo, Janis e Ana, interpretadas por Penélope Cruz e Milena Smit, respectivamente, que se conhecem no dia do parto de suas filhas. Neste espaço, estabelecem um laço.
Tempos depois, o destino as une. Mistério, suspense, um gênero quase teatral com seu jogo de cores, luzes e sombras.
Pessoalmente, uma cena me chamou a atenção e se encheu de significado pra mim: nela Janis ensina Ana a fazer uma tortilla de patatas, prato muito típico e comum na vida cotidiana espanhola. A parte mais difícil da tortilla não é cortar as batatas, ou dourá-las, mas sim darle la vuelta, ou seja, girá-la, pois neste momento, tudo pode ser posto a perder. Inclusive daí veio a frase que se utiliza em uma reviravolta difícil: hay que darle la vuelta a tortilla.
Assim como a tortilla, o filme também se encaminha para uma reviravolta e segura ali o seu coração e seus sentimentos de que algo forte precisa - ou vai - acontecer a qualquer momento.
Paralela ao desenrolar da história que se passa na Espanha atual, há uma busca de Janis e de todo um povo por seus mortos - familiares mortos durante a Guerra civil e o regime franquista.
Para Ana, isto não passa de uma obsessão de Janis. Para Janis, isso é parte de sua história. E nos afirma que já é hora de que nos enteremos sobe a história do país, como expressa para Ana. Não ao esquecimento! A história grita para que se retirem os mortos sobre os quais o país se construiu.
Este é um filme para rever e refletir uma e outra vez. Não existem pessoas apolíticas - ser apolítico significa esquecer, ignorar, desvalorizar. Não escolher um lado é também escolher.
Almodóvar não é apolítico. A história não é muda.
"No hay historia muda. Por mucho que la quemen, por mucho que la rompan, por mucho que la mientan, la historia humana se niega a callarse la boca" - Eduardo Galeano.
Neste filme, em que creio que nada seja ao acaso, o nome tampouco o seria. Quiçá, madres paralelas não se refira somente às duas mães principais - mas às muitas mães que ficaram sem seus filhos e maridos.
Com uma história muito bem amarrada, e, por que não dizer, impecável, não há como sair deste filme sem ser impactado. Filme para repensar, rever e seguir refletindo.
E você, cara leitora/ caro leitor, já o viu? O que achou? Me conte sua opinião.
(crédito: Divulgação/Netflix)
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