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Mostrando postagens de 2022

A conversa que nunca tivemos...

... Mas que gostaria que tivesse existido. Hoje farei da escrita a minha cura. Como o bisturi dO Mundo que você mesmo me apresentou.  Hoje testarei o bisturi na carne e deixarei que a escrita " abr[a] e cauteriz[e], ao mesmo tempo, as feridas " ¹.                        Porque esta ferida vez ou outra volta a pulsar. A cicatriz está lá, mas por baixo ainda dói. 10 anos se passaram e ainda penso sobre o não-dito, sobre o fim abrupto e sobre o silêncio que ficou. Nunca mais ouvi a tua voz.  Esta semana decidi me desfazer de coisas que já não servem mais, desapegar-me daquilo que já não cabe, que apenas ocupa espaço: escritos, matérias, copos, lembranças, enfeites etc. A cada dia me desfaço de uma coisa a mais e hoje abri minha caixa de lembranças. Não num sentido metafórico; é literalmente uma caixa onde guardo cartas, poemas, cartões de aniversário, fotos e, como uma memória recaucada, ali estavam o seu texto impresso...

A pessoa mais importante da minha vida

  Hoje eu quero compartilhar com você uma reflexão que surgiu na minha mente após ouvir uma amiga dizer: - ai, mas eu tenho preguiça de cozinhar para mim, só para mim, só eu que como peixe. Também já ouvi outras mulheres dizerem:  - eu moro sozinha, tenho preguiça de fazer comida só para mim. Aí acabo sempre comendo alguma besteira. Quando a minha amiga disse essas palavras, eu respondi: - quando você sentir isso de que você não quer fazer algo porque é só pra você , pensa que você está cozinhando para a pessoa mais importante da sua vida: você. Desde já quero dizer que eu TE ENTENDO, estamos cansadas, sobrecarregadas, mas quero chamar a atenção para uma lógica ruim que há nesse "só pra mim", afinal, sem você, você não vive. Muitas mulheres deixam de fazer coisas porque é “só para elas”. Note a falta de valor que você atribui a si mesma quando diz algo como “ é só pra mim ”. Quando você pensar em se cuidar e tiver preguiça, pense: Eu estou cuidando da pessoa mais im...

Prisão em mim

Me sinto presa, presa a mim, presa às circunstâncias, mas não há nada que me aprisione.  Por que o ser humano não se sente satisfeito com nada?  É só eu sair, abrir as portas da minha casa e sair, sem hora pra voltar.  É só eu passar um tempo ao sol, me libertar, me permitir, mas o que me prende? Eu mesma, as obrigações que crio. Tenho tempo, mas prefiro sempre me prender à cadeira e não agir.  O sol está brilhando, o jardim está em flor, mas estou aqui no interior da casa, dessas paredes frias, sem contemplar a beleza que há.  Quero estar em contato com a natureza: as árvores, as flores, a brisa fresca, ter um parque para caminhar sem medo. Respirar ar livre, sentir-me livre comigo, quero ver meus amigos, quero não estar presa ao asfalto.   Preciso de novos hábitos.  É só começar, mas me obrigar a fazê-los e aos poucos serão naturais.  O que me impede? Nada, mas eu.  Coisas que quero fazer: - voltar a orar. Me levantar e orar - beber ma...

Reprogr.AMAR

Pensamento acelerado - deveria estar dormindo. Obsessão. Gostaria de desligar. Simplesmente re.pro.gra.mar . Gramaticalizar os efeitos que a tua ausência me causa. Efeitos que afasto escondo, (penso que) anulo. Quando, de repente, explodo, retrocedo, me culpo. Anulo a mim mesma, sufoco você e não te permito SER sem que antes eu seja. Não sou sua dona. Meu dono você também não é. Somos dois seres individuais que concordaram em a vida dividir e em estender a mão para ajudar o outro a caminhar - lado a lado -, ou conforme dizia Benedetti, codo a codo . Já pensei em partir, em soltar, em seguir, ver o que viria a seguir. Mas não seria justo com você que tanto entrega, que tanto doa de si, que tanto se preocupa, que tanto me ama e a quem eu tanto amo que dói. Aprendi a ser 8 ou 80 - ou dependo demais ou quero me indepentizar por completo. Mas como partir se meu coração te dei e o seu você me deu? Ao mesmo tempo, não tenho que carregar o seu fardo. Você nunca me pediu isso, mas eu puxo as re...

Madres paralelas e a tortilla de patatas

Madres paralelas, filme mais recente (2021) do diretor espanhol Almodóvar é um grito. Almodóvar é mestre em manter-nos ali, presos, em suspenso com uma história cheia de reviravoltas e mistérios.  Madres paralelas conta a história de duas mães solo, Janis e Ana, interpretadas por Penélope Cruz e Milena Smit, respectivamente, que se conhecem no dia do parto de suas filhas. Neste espaço, estabelecem um laço.  Tempos depois, o destino as une. Mistério, suspense, um gênero quase teatral com seu jogo de cores, luzes e sombras. Pessoalmente, uma cena me chamou a atenção e se encheu de significado pra mim: nela Janis ensina Ana a fazer uma tortilla de patatas , prato muito típico e comum na vida cotidiana espanhola. A parte mais difícil da tortilla não é cortar as batatas, ou dourá-las, mas sim darle la vuelta,  ou seja, girá-la, pois neste momento, tudo pode ser posto a perder. Inclusive daí veio a frase que se utiliza em uma reviravolta difícil: hay que darle la vuelta a tort...

Chegar a ser - Sobre mudanças

Há algum tempo estava perdida: de mim, do mundo, de minhas convicções. Estava insosa, disgostosa e vivendo no automático. Sofri até me libertar. Quebrei as correntes que me prendiam, fiz novos laços, mas não percebi que minhas cadeias ainda estavam ali profundamente enraizadas. Abaixo da superfície.  O sofrimento regressou. Vivo em altos e baixos. Tento curar as feridas cuja culpa atribuía a outros, quando, na realidade, eram todas minhas, feitas por mim em um ato de autoflagelação.  Dizem que o tempo tudo cura: queria a cura para ontem, mas a cura vem aos poucos. Para sarar, para sanar, é preciso coragem. Coragem para enfrentar os monstros que rondam o pensamento e o nublam, fantasmas que me fazem regressar ao passado. Sou minhas histórias, sou o que já construi, sou o que ainda serei. E quem sabe o que o futuro reserva? Este que nem existe na realidade, mas que é uma soma de presentes. O futuro é uma ilusão: são planos, desejos, hipóteses, tudo virtual. O presente é o real....